eixo do trapezista funâmbulo
faíscas insones de filigranas
engrenagens do tempo
drenagens da alma
ossos, ensaios
desmaios

domingo, 15 de dezembro de 2013

findo

o mesmo oco
ensurdecido
ensandecido
vivo morto
fosco
sopro de vida
suspiro amargo
corpo torpe
lençol vermelho
dissimula
qualquer
breve
pulsar
que já
não

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

efêmero

Tão rara e não livre de espasmos, se manifesta sem discrição e sem licença, tira meu sono e me faz terminar o livro que eu já tinha recomeçado quatro vezes. Pedro Páramo secou meus sulcos de vaidade. Dançar, cantar,  perder o medo de gente. Felicidade, é isso? quero canalizar em algo concreto e não desaguar no velho etéreo. As pilhas de livros e cadernos de anotações ainda estão espalhadas pelo quarto, ameaçadoras. Envelopes vazios de remédio para o estômago que absorve toda a ansiedade. Brinquedos desbotados. Fones de ouvido quebrados, celular sem bateria, o velho toca discos sem agulha, a abajur sem lâmpada, as roupas no cabide, estão sujas ou limpas?

já era,
passou...

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

quer tc?

tem gente que encanta
engana, um canto cadente
espanta severo do seu território
sacripanta, te deixa só os sonhos
e some

soa o sopro pueril
assobio infante
infanticídio febril
sem nem nota dó
vira pó

viro bicho
de novo
poeta marginal
sem capricho
e sem poesia

domingo, 27 de outubro de 2013

Exílio astronômico

Diz que faço parte de sua despedida, do cenário construído junto ao suor dos ensaios de prosa e poesia, amor e tragédia, tecidos a fio por fractais frios. Ah, pois sou parte ausente, deslocada. Sou um assento vazio entre as luzes da ribalta do seu palco pétreo. E lá se vai o domingo infausto de céus e diabos desfalecidos. Pobre dia, pudera ao menos enternecer-se para admoestar o desvanecimento. Foi esvaziado de sentimento, desacreditado de pensamento, entediado de comportamento e  por fim se perdeu de tudo que é humano. Domingo quântico, exílio astronômico. Pobre aquele que insiste burramente nos argumentos fragilizados; suspira filosofia e se afoga na maiêutica do próprio ego; critica a verdade dos homens e se desfaz nas mentiras dos outros. São todos uma mesma extensão de gente, que não se distingue, que não se extingue, que me afugenta. Fazem de mim um bicho selvagem que balbucia solipsismos, um fim sem propósito. 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Usura atemporal

Toada esvaecida de um trovador febril
Ressoa num deserto ébrio e calunioso
O peso pueril nas pálpebras enternecidas
Degredo atávico e desencarnado
Entremeado nas nuvens densas de setembro

Rarefeito, desencontrado, raro
Situar, anacrônico contra-tempo
Verborrágico indiferente, enferrujado
Ser além de alguém, do outro ou de si
Ser sem querer, sem dever, sem ser

Sinalização cinza, sina em combustão
Fluxo intransitável do ser decíduo
Estacionado nas estações, intemperiza
Intraduzível, indizível, sem assunto
O olhar vazio como o quarto de hotel

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Era a filha da moça do sacolão, que em minha infância vi na igreja duas vezes e aqui no bairro cruzei em outras. Alguém de se passar despercebido na mais normal banalidade dos assuntos cotidianos. Alguém que se banalizou até o dia da morte. Dizem que o último suspiro foi um vômito de sangue. Me sinto velejar nessa imensidão acarminada, ermo que provoca profundo sono, lúgubre calmaria inebriante. O tempo se contrai nesse sopro, tão curto pra ela, tão longo pra mim. Adormeço em devoção.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O Corvo

Escrever sem temer o segredo
Sussurrar neste agreste degredo
O poeta infante está morto
Acorrentado ao pêndulo
Suspenso anacrônico

Hóstia podre da absolvição
Antropofagia da resignação
Encouraçado no fundo do poço
Preferiria Potemkim, inquisição espanhola
Ao poço sem fundo do amor de outrora

domingo, 9 de junho de 2013

Decomposição

Estou cru
Inerme no fronte da realidade
O belo me corrompe
Memórias me perfuram
Percorro os corpos
Caídos, são todos meus
Não há saída
Acepção ou fuga
Não há vida 

Uma comoção se apodera de mim, como se cada olhar que lanço fosse o último. É como viver uma despedida para a reclusão em um corpo morto, para repetição de ações e sentimentos até as rugas cravarem o osso. 

E o pensamento insiste: eu não quero, não consigo, não quero. E estou amarrado em um cotidiano que não é meu, em um corpo que não é meu. A falta de ar virando abatimento, letargia. Minha perspectiva é o céu da noite. Não caibo aqui, e o mundo não cabe em mim.

Pareço ter quinze anos, mas sei que já vivi mais de pesados duzentos. 

terça-feira, 28 de maio de 2013

Nada o peixe, nada eu.

       Sempre gostei de bicho, tanto que quando menino criei vários, mesmo sabendo que não fazia bem prendendo-os, e muitas vezes dando um jeito de deixá-los escapar às escondidas. Quando o animal era um muito difícil de cuidar meu pai logo dava um jeito de se livrar, e depois inventava uma história pro sumiço. Eu sabia que era mentira, mas adorava os contos das fugas, e não precisar conviver com a clausura ou a culpa de uma soltura pra morte e o que era pior: assistir a morte. Teve a história do jabuti que abriu o portão e desceu a rua pela calçada até o bosque do pequizeiro, do gato, quindim, que se curou de repente do abatimento e pulou da rede para ganhar o mundo. Teve o casal de marrecos comedor de plantas, que voaram muro acima quando viram um bando de marrecos selvagens em busca dos estuários da América do Sul. Com os garnizés fiquei tempo suficiente para o nascimento dos primeiros pintinhos, foi uma das experiências mais legais.
       Eu não gostava muito de brinquedos nem tinha muitos amigos, precisava dos animais. Mas eles não me faziam feliz. Os curtos ciclos de vida e a dedicação para mantê-los vivos trouxeram meus primeiros mergulhos no universo da morte, e uma angústia me perseguia em sonhos.
       Os hamsters me deixavam agitado, como se eu morasse entre os tubos coloridos de acrílico, que com o tempo tornavam-se encardidos e fedorentos. A facilidade de reprodução de roedores, coelhos, porquinhos da índia, me ludibriava com um certo fascínio da vida . Com eles também compartilhei momentos de tristeza, quando chegávamos ao limite da existência e da esperança, quando a gaiola se tornava muito pequena pra nós. Certa vez descobri o cadáver de um chinês que passava de duas semanas. Virei o corpo gelado na serragem e perdi o fôlego quando vi as larvas famintas, que me consumiram. Uma fêmea panda, corpulenta e macia, foi a mais doce que encontrei, chegava a dormir tranquila na palma da minha mão, até que um dia engravidou, e me deixou desesperado quando rejeitou os filhotes; contei aos outros que ela não produziu leite, e ficou bem triste, mas não era isso, ela não queria os ratinhos rosa-transparentes e mal formados, como são as crias de qualquer roedor. Morreram todos, e ressurgiram em pesadelos por meses. São tantas histórias trágicas com roedores. Na loja perto de casa vi um mecol, ou rato de laboratório, e seus olhos vermelhos e rabo de ratazana me deslumbraram. Era uma fêmea com dois filhotes recém-nascidos, mandei empacotar, a caixa de papelão foi amarrada em minha bicicleta, quando abri a caixa a rata deu um pulo e correu pelo chão do quartinho sujo onde eu criava porções de ratos. Perdi o controle da situação quando meu pai chegou mandando eu devolver o bicho pra loja, prendendo-o na caixa usando luvas grossas de marceneiro. Eu expliquei que não tinha visto o tamanho do bicho, que pensei ter sido um sírio, bonzinho e fofinho. Por um tempo assumi o ofício de cientista; fiz experiências com insetos do quintal, injetando todo o tipo de substância química a espera de uma mutação genética que nunca aconteceu. Até hoje não tem mais grilo aqui. Depois de meses comprei outro mecol, era Túlio, branco, olhos incendiados, uns 30cm. Estava sozinho na gaiola do petshop, desesperado. Emendei cinco gaiolas e a enchi com brinquedos e comidas. Túlio ficava solto grande parte do tempo, no quartinho ou entre meus braços, mas era muito territorialista e eu já enjoava do cheio de xixi em minha roupa. Nosso espaço se esgotou, as grades da gaiola estavam inteiramente roídas, as minhas unhas estavam roídas até a carne. Esfarelei meus dentes roendo. Parei de comer, parei de dar comida para o Túlio. Matei o Túlio e chorei por semanas. Disse que nunca mais teria um animal novamente.
       Enquanto cresci um pouco convivi mesmo com muitos animais. Jabuti, tartaruga tigre d'água, cágado, codorna, marreco, pássaro, girino, sapo, galinha, cachorro, gato, porco, cavalo, carneiro, minhoca, formiga, borboleta, esperança, louva-deus. Hoje, convivo mais com pessoas, mas ainda estou aprendendo, e elas são bem semelhantes com os animais. Recentemente me despedi de uma uma tartaruga, pensei que passaria a vida com ela, já que vivem tanto tempo. Mas de novo vi que nosso terrário estava ficando pequeno e a ração acabando.  Quebramos o vidro, caminhamos lentamente em direções diferentes. Às vezes ainda piso num caco de vidro e me corto. E a silhueta da tartaruga segue no horizonte, andando pra longe, procurando por água, passando por rios, lagoas. Acho que vai chegar no mar, vai mergulhar fundo, por corais, cardumes bailarinos, baleias azuis! 
     Quando menino chamei meu pai e um amigo dele, artista, para construir um laguinho para criar peixes. Comprei carpas coloridas, a bomba de oxigênio quebrou, as coloquei em um aquário, elas se mataram batendo a cabeça no vidro. Hoje, enquanto andava no shopping, vi uma loja de peixes, as cores até nos enganam, embriagam, mas aqueles bichinhos não são mais peixes, perderam a essência quando saíram do mar, foram coisificados para atender as nossas doentias carências. A melancolia dos ciclídeos do Malawi, impossibilitados de contribuir com a mais fascinante história da evolução da vida, me deixou prostrado entre os vidros e algas. Me lembrei do laguinho, que já pensei em derrubar tantas vezes. E me senti afogar em sua água rasa. Me fiz de desentendido, telefonei pra minha mãe e falei sobre levar peixinhos pra casa. Me transportei ao passado, mas agora tenho dinheiro na carteira, e meu pai não mora mais comigo pra me proibir de prender bicho. Inventei que seria bom deixar a água disponível para os passarinhos beberem e evitar que o mosquito da dengue proliferasse. Comprei um casal de tricogaster, varri a poeira e o lodo ressecado, enchi de água com uma mangueira, meu corpo pesado, a tristeza latejando. Rasguei o saco de plástico para os peixes ganharem o nado, e o ar tornou-se rarefeito, senti esmorecer os sentidos. Nadei com eles, nadei, nadei, alimentei meu nada, senti que estavam morrendo, eu estava morrendo, mais uma vez.  
       Ao cair da tarde sumiu um peixe, misteriosamente. Na melhor das hipóteses uma ave o devorou. Minha angustia aumenta em pensar no tricogaster isolado, lá fora, na água gelada. Ele dolorosamente começou a morrer quando nasceu no criatório artificial, e não faz diferença se o encontro morto amanhã, ele já está morto, e eu morrendo. 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Não é belo
Não inspira
Não respira
Não exime 
Não preenche
É ausência
Decadência
Inexistência  

No mesmo peito o peso morto, preso. Assombrado na multidão, cego, invisível, irrisório. Passado remoto de controle sem pilha, cinema noir, sombra insustentável que não se dissipa nem incorpora. Incorpóreo. Atado intransitável, devorado com pena e tudo, sem piedade. Depenado, vago, vagueia, vagabundo sem sina, no sinal fechado, atarracado no açoite dos dias deletérios, absorto no deleite de vazios afoitos, na verborragia errante, na covardia de principiante.       


 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Tiro os versos do relento 
Com os gemidos de Baco
Para abstrair um sentimento
Vejo um Narciso descabelado 
Ressurjo em abstrato lamento
A manhã levou parte de mim
Parece tarde para me redescobrir
Imerjo à nau de mar lacrimal 
Quero acordar numa caldeira do sol





domingo, 28 de abril de 2013

sou dura amargura
visto gélida armadura
pois amor não dura
nem o tempo apura
mas amar cura

Me percorra

Me dê amor e me entorpeça
Me adormeça em seu corpo
E se despeça da vida
Me replique em vários
Encantos e torpores
Me impressione
Ou recorte cubista
Me estanque
Me sangre
Irrompa e
Pontue
Me
.

Sem

Desligo parabólicas
Erradico pragas
Exorcizo  demônios
Paraliso sorrisos
Fora do ar, série e sintonia
Fora de mim
E de você
Terráqueo exilado
Em terra de ninguém

(tirado dos rascunhos antigos do blog)

Ser tão envolto

Caminho para Brasília
Cidade armadilha 
Subterfúgio de mim 

Enlevo aliterações 
Entre serras e chapadas 
Nas estradas de Cavalcante

Sinuosa liturgia amante 
Indelével delírio 
Deleite de liberdade errante

Trago lima, abóbora, amendoim
A face queimada pelo sol
E um sertão inteiro no coração



segunda-feira, 15 de abril de 2013

Distimia

Cata-vento translunar
Catatônico limiar
Tempo vão
Disperso em palavras
Olhar são
Intrépidos trejeitos 
Transbordo algo
Reparo, concerto
Mecânico 
Sem diagnóstico

quarta-feira, 20 de março de 2013

Singularidade

Mudança de força gravitacional
Neste lusco-fusco assolador
Estática fração de segundo
No último impulso-suspiro de amor
Impetuoso momento insurgente  
Espaço - Tempo entrecortado
Se desvela temoroso de repente
Somos a singularidade primordial
Universo inflacionário em explosão
Centelha etérea de átomo sideral






sábado, 9 de março de 2013

Luto

Lânguido limiar
Imperscrutável 
Desencontrado
Todo dissoluto
Como o tempo

Ducto lacrimal
Doutrora alma
Compartilhada
Agora cegada
Desmazelou-se

Se eu reverberar em tua sombra, me reconhecerás? 
Mergulharei quem sabe em mais que suas sobras?

Palavras insones e embriagadas,
Soluçam por reencontrar-se 
Resguardam cada centelha 
Do tempo passado
Remoem beijos
Com usura 
Morre de 
Saudade 


terça-feira, 5 de março de 2013

Oxiúro

Constipada posição fetal
Falível em autocombustão
Feridas cobertas com sal
Escarificações escarlates
Hedonismo dilacerante
Ao réquiem de um sonho
Sangra corrompido corpo
Templo d'outroras almas
Pulula profligo sua fratria
Recôndita psique asséptica
Inerme escombro recôncavo
Inerte enseada do ser estéril

sexta-feira, 1 de março de 2013

Saturação

A insatisfação percorre meu cotidiano insípido
Traga meu textos e pretextos e cospe amargo
Tira meus sapatos e meu céu de nuvens ralas
Deixa os dias insólitos e o passado um imbróglio

Temo o iminente de cada passo, mal agouro
Arrisco nas fronteiras da alma a apatia das coisas
Dos filmes, árvores, pessoas e orquestra sinfônica
Arrisco retorcer ecologia com com Baudelaire
Permaneço com meu solipsismo caduco e indolente

Transe

Entremeio um momento atemporal
Ao desalento acalanto o pranto
Escoo a alma ao som e o tempo
Me encanto com o ponto reticente 


Imerjo em poço de senso estético
Ecoo, paro, pareço, padeço
Nesse hibridismo tácito do ser
Nada se desvela importante


Tudo se dissipa no mesmo etéreo
Dilato na fronteira porosa do corpo
Dilapidado irrompo anacrônico
Ressurjo estelar nessa nebulosa 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

a dor me ser

Um dia depois do outro, a alma vazando pela sola do sapato. Um filme iraniano para momentaneamente esquecer o tempo, outro em seguida para reforçar minha solidão. Três páginas de um romance para Morfeu comiserar-se de mim. Fechar os olhos tíbios para o mundo. Deixar pra lá as engrenagens sociais, os afetos mais orgânicos, as fórmulas do progresso, os cometas e o papa, deixar se é sonho ou realidade, deixar ser...












terça-feira, 12 de fevereiro de 2013


À nau de mim
Se vão os blocos
A liberdade etérea
O ser com os outros

Carnaval que desvela
Quimeras esmiuçadas
Estorvo de comoções
Embriaguez descomedida

Reflexos de amores convictos a estibordo velejar em convulsões de ondas da irracionalidade humana ...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

des
carga
menstru 
ação a 
baixo
mens
tru
ação 
des
carga
abaixo 


O ex marido esteve de passagem na casa dos filhos, tempo suficiente para ajudar o mais velho, de vinte e dois, a instalar o chuveiro novo, sob o nervosismo da mãe que temia algo de errado. Por problemas na rede elétrica da casa, era comum que o chuveiro queimasse. No dia seguinte, a menina, de dez anos, cuidadosamente abre o mínimo do registro, para a água sair fumegante. Enquanto o banho, o rapaz mais velho escova os dentes sentindo-se numa sauna, conta à mãe sobre a elevada temperatura em que a irmã se expunha,  que fala com ar de esperteza "falei pra ela que o chuveiro não fica quente, pra ela não queimar de novo".