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drenagens da alma
ossos, ensaios
desmaios

domingo, 23 de dezembro de 2012

Queria conseguir começar a escrever qualquer coisa que tivesse continuidade e utilidade, uma história que me recolhesse todos os dias, mas eu não consigo, sou rúptil e falseado.

Mudar a senha do cartão do banco

Acordei pouco mais de uma da tarde, recuperando a consciência com as primeiras respirações. Ontem, droga alguma foi capaz de me embriagar. Me mantive em pé, com as pessoas da varanda. Vi o tempo passar com o cruzamento das constelações em um céu mais nítido que o comum. Faça alguma coisa, vá ao cinema, critique o filme, sorria, fale sobre outro filme qualquer com a sua amiga, conte uma piada que só vocês entendem e se sinta único no mundo, hoje é um dia especial. Hoje você pode gastar o dobro com comida, e falar mais alto na mesa. Falar palavrões. Falar sobre você.

Hoje é dia de sentir o medo do mundo. Fui pegar a grana pro cinema, encontrar com uma amiga, quebrar a inércia. Esqueci a senha do meu cartão de crédito que uso há uns cinco anos. Tem coisa que eu gostaria de esquecer, outras me deixam preocupado, como se eu não vivesse aqui, estou enganado? 

Não sei distinguir entre livrar-me de mim ou aproximar-me de mim. Agora me sinto livre de comportamentos lúgubres, mas e os sentimentos mesmos? Sou aquilo que desejo, aquilo que não sou ou aquilo que tenho acesso. 

Não deixe esse dia acabar, misture-o com o seguinte, mantenha-se rente. Quem é você que me ordena e com qual ousadia escreve? Coloco um filme, romântico, adolescente. Reprovo meu choro desnorteado. Por que você chora? Porque ativou alguma memória remota, porque cresceu demais e perdeu a ingenuidade, porque cresceu pouco e continua imaturo como uma criança. Tenho medo de parar de chorar, as lágrimas às vezes parecem tentativas de dar sentido a vida. Medo de chorar para sempre, das lágrimas correrem como rios sob rugas cansadas. 

Não sei a senha do meu cartão de crédito, as contas de celular chegam pelo correio e eu não sei o que fazer com elas, meus livros acumulam-se como frustrações de uma vida passada na estante que meu pai fez pra mim. 

Não sei o que significa isso. 
Deixo o som ligado, inibo meus pensamentos.
Hora de dormir, hora de...






segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ser tão grande e impessoal

O sertão não sai de mim, chego com a esperança em flor e afloro a ânsia terna de semear amor na alma como faz o cerrado na terra vermelha. Eu, ser tão pequeno nessa cidade em transe e intransitável, hipnotizada por outdoors e telas vazias de cinema, percorro e corro pelo braço e cabelos, inebriado num vislumbre de paz, quero ocupar o sertão de mim. Me reconhecer nas chapadas e suas águas. Não emudecer entre as estradas e vozes dessa cidade desenganada.