eixo do trapezista funâmbulo
faíscas insones de filigranas
engrenagens do tempo
drenagens da alma
ossos, ensaios
desmaios

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Conto-comentário, para frílaba. 

Entreviu a trépida borboleta um príncipe no orvalho. Reluziu multicor em arco a íris dos olhos de amor. Regozijou-se subitamente aquela de sempre aborrecida. As tênues asas tremeluziram ao nascer do novo sol. Ao contorno claro mostrou-se avulso o escaravelho. Como podes me roubar o coração este carapaça seca? Contudo, naquelas costas estava encrustada uma maçã podre.E ela logo soube da maldade que acometeram ao sujeito. Sugou o açúcar e com ajuda das formigas retirou a fruta. Assim, o príncipe agradecido a nomeou honrosa princesa. Não queria casar-se com um ser tão duro e soturno, mas havia as cores que refletia e o reino que oferecia. Substituir a solidão por muita distração e nobres regalias, sim. Mas horrorizada com a exigência dos cascudos a borboleta fugiu. Não perderia suas asas em troca de príncipe algum. Naturalmente, envelheceu,e as asas, enfraquecidas, descoloridas, ao chão. Voltou ao escaravelho enraivecida, arremessou-lhe com ajuda das formigas, uma maçã carcomida. Ele não resistiu e feneceu. A irmã do príncipe assumiu o nicho e apaixonou-se pela assassina do irmão. Passaram o resto da vida discutindo sobre ética e filosofando sobre formigas.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

eu atuo sob o sub-consciente.quando crio frases ou figuras sem saber aonde vou. eu aturo o amargo inconsciente quando crio apesar dos prelúdios avulsos e malacabados.eu expurgo o consciente em mililitros e filigranas de ouro de tolo.e não consinto.e não sinto.e minto conscientemente.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Palimpsestos engavetados

         Confronto e conforto ser cruzam atarracados sem cruzes nem céus. O relógio irrompe sem pena meu cotidiano confrangido por desejos e receios, as dificuldades se revelam em atos simples, assumem proporções babelescas. O quarto me devora a cada segundo e não consigo organizá-lo. As pessoas parecem mixórdias depois de trinta minutos e preciso perscrutá-las. Me torno inconveniente.
        Um tubo pneumático entre os primórdios pueris e avulsos dias juvenis e os atuais tempos tortuosos ao léu. Percebo que não mudei tanto assim quando tento justificar esta frase, tirando uma monotonia dissimulada por desgaste existencial e algum afinco as questões éticas e morais com um trabalho que exige alta competência. São luzes definhadas pelas frinchas da alma de um ser ontológico. Toda minha esperança em alguns olhares de algumas esquinas e becos escuros, furtivos e reflexivos, às vezes sou eu provocando algum ruído. Tenho liberdade para moldar minha realidade mas isso é desesperador, às vezes é mais fácil cuidar do meu jardim, como contou Votaire.
        Palimpsestos engavetados e roídos pelas traças. Quantas histórias posso escrever em torno de meu intrépido ou frouxo caminhar por esta vida? Posso chamá-la mesquinha e me tornar um chamando-a assim.
Enquanto soar a cantilena ecoando ao cosmos sobrelevarei às dimensões do espaço e tempo. E se eu desviar  o bater das asas de uma borboleta sentirei o baque sobre meus pulmões enchendo-se de alma.