eixo do trapezista funâmbulo
faíscas insones de filigranas
engrenagens do tempo
drenagens da alma
ossos, ensaios
desmaios

domingo, 11 de setembro de 2011

à toa

felizes tristes dias, acabando em alívio e pesar
espero em harmonia paralela assincronia
tristes felizes dias, esperançando desde o lumiar 
era de poeira a nuvem da primeira chuva
a rosa pequenina ganhaste daquele que não a soube plantar
desceu em lágrima de fogo a primeira rega 
pouco fôlego e rima à toa, e lá o sol a despontar .

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

I Físico e Fádico

Começo buscando simplicidade, contornando o corte de cabelo voluptuoso, não há tempo para adentrar ao olhar, mas estava lá, como refletindo-se à solidão de quem confunde o céu com o vazio de cento e cinquenta lados escritos em um dia inteiro. Apressado, não pode parar,sem perceber que já estava, desde que segurou a caneta, percorreu as primeiras linhas, limpou os resíduos da borracha que grudavam no suor da mão que se arrastava sobre o papel branco. Parecia estar se consolidando, parecia esboçar um semblante peculiar, a partir do que escrevia, parecia. Poderia sair de casa, largar os céus do quarto e sem embaraço, tirar o véu e desamarrar o laço. Cumprimentaria quem passasse ao redor, com um olhar sereno de quem caminha seguindo a alma, de quem seria além do sorriso sutil que sobrevoava baixinho as andorinhas que se refrescavam nos dispersores de água do jardim. Entre o físico e o fádico, em fado e ritmo acelerado de quem resplandece ao primeiro alvorecer, enfado. Pensava com amargura, mais uma vez, parece a primeira que me proponho a faustoso teatro de mim. Não sabe quando começa a atuação e termina em autuação. A encenação, enceração de um palco corroído pelas traças que percorrem o âmago do ser, o fluxo de poeira que inalada inibe o pensamento. O purgamento é o fado de quem permite-se a insensata desventura de manter-se a margem de si. Tudo está perdido, em chamas ou ruínas, não há o que fazer, limpar, apagar, acender. Ascender. Achando que num segundo encontra a solução, ou a si, que será o marco inicial para a corrida do tempo perdido. Não tenho proposta melhor mas vejo como desbunde este ato. É masturbação. Auto intimidação, ilusão confundida com um sonho, de um jovem em lençóis brancos, de romances e obsessões por personalidades literárias, lirismo lapidado por martelo em mármore, errôneo, entre o sangue escorrido dos próprios dedos lânguidos, visco sangue, qual outro sinal conseguiria alcançar de vida remanescente. O arquétipo está traçado, o arquejo pré-determinado, eternizado em retornos impassíveis até que chegue ao cais da alma, quando seca o sangue, esbravece em brasa e esfria à brisa das horas passadas, do tempo perdido, do ecoar reverso e rumores desalmados.Você não deve fazer isso, não há paz, não há interior, você só existe para os outros.



II (Esboço)

Estava lá, ninguém viu, mas todos ouviram. Esqueceram. Há menos de três anos, a cidade não passava de um cenário para estranhos. Por isso a identificação, estrangeiro em terra natal, sempre foi assim, exilado de si, sem pátria, sem família e sem paz. Essa cidade tem idade ? Dois milhões de habitantes? É um teatro marginal no centro do país. é um esboço matinal das ruínas da civilização. Sem amor, sem amoreiras. Sem tradição. Sem ninguém, sem mim. As vitrines vítreas bem demonstram o olhar dos indivíduos. As pessoas vivem bem como às vezes me sinto, adentro ao inconsciente coletivo. Meu drama estampado na cara tonta de todos que vão e vem e nem se vêem. Aqui tem cemitério, as pessoas morrem ? aqui não tem pessoas. Aqui tem indivíduos. Sabe qual é a diferença? Indivíduos não têm rosto, só sombra, não têm história, não têm gosto. Indivíduos não são metafísicos, são só físicos, não tem sensualidade, tem performance. Aqui são assim, aqui sou assim, aqui não sou. Entre o sim e o não, aqui sou uma narração. Estou em setembro, e a natureza ganha fama nos noticiários, nunca incomodou tanto, em forma de fumaça entra pelas janelas dos casarões que estendem do átomo central de comando da cidade.  A natureza tem rosto, tem cor, tem cheiro de verdade, tem ritmo, tem vida. Aqui na minha cidade a natureza só ganha vida quando encendia. Abro as janelas do meu quarto, moro em um apartamento. Foi em julho ou agosto que eu quase sentia o cheiro das flores do ipê trazido pelo vento. Ipês dão trabalho, sujam a cidade, queria todos em meu quarto, queria meu quarto sobre as folhas de uma árvore dessas. Os indivíduos precisam de encontros, entre tantos parece mais fácil que eu imaginava antes daquele dia, há menos de três anos. Fluxo constante de passos, pessoas seguindo seus sapatos, noites trêmulas, ainda sou muito novo. Ainda não sei qual minha direção temporal, confundo minha infância com mês passado. Estava entrando na faculdade quando aconteceu. Aquilo mudaria minha vida. Eu estava tão confuso. Decidi mudar de curso. Decidi estudar psicologia em outro pais. Decidi parar de perturbar meus pais quando sequer levaram a sério minha decisão. Pra isso eu tinha pais. Pra isso eu não tinha paz. Pra isso eu não tinha país. Às vezes eu escrevo, não me considero poeta nem nada, mas escrevo, me reabasteço com a vida que me convém ao momento e descarrego aquela que venceu a data de validade. Eu tenho 16 anos. Eu sou muito novo pra tornar a infância minha pátria, sou muito velho pra descobrir o que eu gosto, sou muito abstrato pra descobrir quem sou. Fecho os olhos antes de dormir, em queda livre sinto os pés da minha cama quebrar num solavanco. Tudo é cosmos, sem pessoas nem indivíduos, sem preocupações com trabalhos ou moda, sou imortal em não ser, em queda por liberação de dimetiltriptamina, ou DMT, essa mesma substância liberada em sensação de quase morte e ao parto. Tão curto o vínculo entre a vida e a morte. Quando criança, criança mesmo, o cosmos me provocava fantasias, eu amarrava o cadarço ao pescoço, preso na cabeceira da cama, até ficar vermelho. Eu prendia a respiração pelo máximo de tempo, tonto, soltava o ar. Ainda penso no cosmos, às vezes, mas concluí que não é saudável.
Pois bem, a cidade cenário ideal, as fantasias infantes com o cosmos. Ideal seria sair dessa cidade, ou tornar a existência daqui realizada no plano daqueles chamados indivíduos, ou seja, partir ao cosmos.