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drenagens da alma
ossos, ensaios
desmaios

segunda-feira, 4 de julho de 2011

          Parece perspicaz quando me refugia. O convencimento risca os caminhos a fogo, minha alma extravasa, fuligens de seu contorno. Fugacíssimo, já se foi, deixou uma vala. Acendo uma vela, não há mais nada. A cera enrija em cima do mármore, escorre em meandros venosos, veios da rocha ou estas salientes de meu braço. A chama, a mariposa carbonizada, fumaça turva na escuridão noturna, agressividade voluptuosa. Não posso dormir ainda, talvez o pensamento volte e eu o perca de novo, então poderei escrever mais alguma coisa, talvez contínua. Condição insensata, lúgubre por lacunas que talvez nunca tenham sido ocupadas. Não.  Mantê-las é ter pra onde ir.
         Quando eu sonho, não saio, resisto até o último ressonar que se mistura aos lamentos da realidade. Abandono todas as minhas responsabilidades. Responsabilidade. Não respondo por meus próprios atos, nem por ninguém, sou etéreo. Aéreo ao campo da racionalidade. Ele é distraído, perde suas coisas o tempo todo, está sempre atrasado. Sou Metafísico, as coisas são só coisas. Pode ser um caminho, mas muito mal fundamentado. Por isso prefiro Kafka. O absurdo em uma descrição simples mas exaustiva. Logo percebo que a descrição não justifica o fim do pensamento. Continuará sempre sem fim, por isso escrevo, penso e nego.
        Quando parar? Aceitar a falta de um grande final, na busca de sensatez e discernimento, tem me parecido um bom caminho. E por aqui consolido em legíveis pensamentos a abertura de um caminho para a criatividade desinibida. O contraditório automatismo construído para a liberdade individual e social está em desmonte. 

Um abraço.
a cor dada
sem remorsos
branco, ferrugem
a cor de ossos
do ofício
cemitério de cores
rumores de cores