II (Esboço)
Estava lá, ninguém viu, mas todos ouviram. Esqueceram. Há menos de três anos, a cidade não passava de um cenário para estranhos. Por isso a identificação, estrangeiro em terra natal, sempre foi assim, exilado de si, sem pátria, sem família e sem paz. Essa cidade tem idade ? Dois milhões de habitantes? É um teatro marginal no centro do país. é um esboço matinal das ruínas da civilização. Sem amor, sem amoreiras. Sem tradição. Sem ninguém, sem mim. As vitrines vítreas bem demonstram o olhar dos indivíduos. As pessoas vivem bem como às vezes me sinto, adentro ao inconsciente coletivo. Meu drama estampado na cara tonta de todos que vão e vem e nem se vêem. Aqui tem cemitério, as pessoas morrem ? aqui não tem pessoas. Aqui tem indivíduos. Sabe qual é a diferença? Indivíduos não têm rosto, só sombra, não têm história, não têm gosto. Indivíduos não são metafísicos, são só físicos, não tem sensualidade, tem performance. Aqui são assim, aqui sou assim, aqui não sou. Entre o sim e o não, aqui sou uma narração. Estou em setembro, e a natureza ganha fama nos noticiários, nunca incomodou tanto, em forma de fumaça entra pelas janelas dos casarões que estendem do átomo central de comando da cidade. A natureza tem rosto, tem cor, tem cheiro de verdade, tem ritmo, tem vida. Aqui na minha cidade a natureza só ganha vida quando encendia. Abro as janelas do meu quarto, moro em um apartamento. Foi em julho ou agosto que eu quase sentia o cheiro das flores do ipê trazido pelo vento. Ipês dão trabalho, sujam a cidade, queria todos em meu quarto, queria meu quarto sobre as folhas de uma árvore dessas. Os indivíduos precisam de encontros, entre tantos parece mais fácil que eu imaginava antes daquele dia, há menos de três anos. Fluxo constante de passos, pessoas seguindo seus sapatos, noites trêmulas, ainda sou muito novo. Ainda não sei qual minha direção temporal, confundo minha infância com mês passado. Estava entrando na faculdade quando aconteceu. Aquilo mudaria minha vida. Eu estava tão confuso. Decidi mudar de curso. Decidi estudar psicologia em outro pais. Decidi parar de perturbar meus pais quando sequer levaram a sério minha decisão. Pra isso eu tinha pais. Pra isso eu não tinha paz. Pra isso eu não tinha país. Às vezes eu escrevo, não me considero poeta nem nada, mas escrevo, me reabasteço com a vida que me convém ao momento e descarrego aquela que venceu a data de validade. Eu tenho 16 anos. Eu sou muito novo pra tornar a infância minha pátria, sou muito velho pra descobrir o que eu gosto, sou muito abstrato pra descobrir quem sou. Fecho os olhos antes de dormir, em queda livre sinto os pés da minha cama quebrar num solavanco. Tudo é cosmos, sem pessoas nem indivíduos, sem preocupações com trabalhos ou moda, sou imortal em não ser, em queda por liberação de dimetiltriptamina, ou DMT, essa mesma substância liberada em sensação de quase morte e ao parto. Tão curto o vínculo entre a vida e a morte. Quando criança, criança mesmo, o cosmos me provocava fantasias, eu amarrava o cadarço ao pescoço, preso na cabeceira da cama, até ficar vermelho. Eu prendia a respiração pelo máximo de tempo, tonto, soltava o ar. Ainda penso no cosmos, às vezes, mas concluí que não é saudável.
Pois bem, a cidade cenário ideal, as fantasias infantes com o cosmos. Ideal seria sair dessa cidade, ou tornar a existência daqui realizada no plano daqueles chamados indivíduos, ou seja, partir ao cosmos.
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ResponderExcluirdes
ResponderExcluirtru
i
ção
n
o
s
ma
chu
ca
to
do
s
os
dias...(auto, cidas, auto, dromos,auto didatas, auto ....atas, auto cartas, auto matas, auto datas, auto fatos, baixos e fracos... ou altos e secos *high & dry, Radiohead...)
minha destruição dos poemas é só uma entre tantas outras em vão, vou ter que lidar com mais essa. e compartilho isso contigo porque sei que você entende.
'espaço
entre a dor
e o consolo.'
Toms, Zés, Miltons, Seixo(a)s, (pedras - no meio do caminho tinha um pedra...' trilha uma pedra no meio do caminho... uma vez, numa caminhada ecológica, um homem (esquizofrênico) -antes de tudo isso acontecer-, pegou algumas pedras e disse: 'essa é uma Rolling Stones: como você, só fica enrolando todo mundo... pedra "...?", multifaceda, polida e lisa, ... (não me lembro mais bem... e porque diabos achei que isso era ruim? porque anjos não foi evitado tudo isso para que tivéssemos uma vivência mais feliz? e porque nossos amigos caem na mesma cilada, mesmo com nosso exemplo??? isso que não entendo. sou cobaia de mim mesma, essa é a pior sina que pode existir. 'estou só, e não resisto, muito tenho pra falar...' boa noite, e bons sonhos Winie. (e pro meu querido amigo Grilo Falante também.) *um poema, mesmo quando refeito, nunca é a mesma coisa... mas pode se tornar outra melhor ainda... tô sofista hoje, tchau.
parir o cosmos
ResponderExcluirconstelações
planetários
observatórios
não tenho mais estrelas
não ora digo mais ouvir estrelas
ester linas
zabelinas
sozinhas
sem rima, sem rima.
faça como eu que vou como estou
ResponderExcluirporque só o que pode acontecer
é os pingo da chuva me molhar...
Novos Baianos
Cumprimentaria quem passasse ao redor, com um olhar sereno de quem caminha seguindo a alma, de quem seria além do sorriso sutil que sobrevoava baixinho as andorinhas que se refrescavam nos dispersores de água do jardim. Entre o físico e o fádico, em fado e ritmo acelerado de quem resplandece ao primeiro alvorecer, enfado. ; Winie.
ResponderExcluirEstava lá, ninguém viu, mas todos ouviram. Esqueceram. Há menos de três anos, a cidade não passava de um cenário para estranhos. Por isso a identificação, estrangeiro em terra natal, sempre foi assim, exilado de si, sem pátria, sem família e sem paz. ; Winie
ResponderExcluirapaga os outros comentários x.x
ResponderExcluire apaga aquela outra foto 'que desgraça meu bem que pena meu bem etc' ):
"Pois bem, a cidade cenário ideal, as fantasias infantes com o cosmos. Ideal seria sair dessa cidade, ou tornar a existência daqui realizada no plano daqueles chamados indivíduos, ou seja, partir ao cosmos."
thank you dear. :,)